O que é preciso para se criar um grupo teatral forte e atuante? Tenho me perguntado muito isso nos últimos meses. Não há fórmulas de sucesso, eu bem sei. Cada grupo constrói (e destrói) as suas próprias fórmulas e códigos de convivência. Há grupos que tem o seu forte na assinatura estética, outros que apostam na circulação, alguns gostam de estar sempre em risco experimentando algo novo, e outros mergulham em longos e enriquecedores processos de pesquisa. Cada um constrói sua identidade. O importante é ter uma identidade, uma marca forte junto ao público e a classe artística. Será?
Tenho refletido sobre isso ultimamente. Não que estejamos passando por alguma crise interna. Se há crise, é externa. Atualmente somos um grupo formado por artistas que raramente estão na mesma cidade. Mas isso é o de menos no momento. Algo nos mantém ligados e atentos um ao outro e ao teatro que nos une e inquieta. A questão da identidade é o que me preocupa. Não buscamos uma marca. Nossa marca é nosso trabalho. Quando penso identidade, penso o que nos mantém juntos?
Vejamos: Somos um jovem velho grupo. O Grupo Bicho de Porco nasceu em 1995 em Niterói nas mãos do diretor Gilsérgio Botelho e teve uma bela trajetória até 2002, quando nos separamos e cada um foi buscar outras experiências. Eu fiz parte dessea história. Palavra-chave dessa época: Inquietação. Anos depois, em maio de 2008 na cidade de Cabo Frio, após uma bela experiência criativa com Jiddu Saldanha surge a idéia de formar um grupo e com base nos meus relatos daquela época, e com a aprovação e torcida de seu antigo diretor (agora conduzindo a Cia OperaKata), ressurge o Grupo Bicho de Porco. O que liga histórias, trajetórias tão distintas? A mesma palavra-chave. Inquietação. Uma inquietação tão forte que foi capaz de construir três trabalhos em menos de um ano.
Poderia até pensar se vamos completar quinze ou três anos em 2010. Mas o que me move mesmo é manter essa palavra-chave viva no nosso trabalho e na nossa conduta em relação ao teatro e ao mundo de forma geral. Lógico que inquietação não é tudo. Assim como uma excelência técnica e estética não são garantias de um grupo vivo e pulsante (no máximo garantem um teatro limpo e bem executado, mas sabemos que isso não é tudo). Na busca por essa tal identidade descobrimos outras palavras e termos que tem o poder de tijolos na construção de uma casa. Autonomia. Nada de ator preguiçoso ou dependente do diretor. Ética. Respeito. Estudo. Escuta. Fome. Suór. Banquete. Silêncio. Repetição ("até ficar vivo"). Visão de Mundo (esse termo nem é um tijolo mas a janela nessa construção). Tudo isso muito vivo e exercitado na relação que (re)começamos a criar. (Sim, temos que exercitar tudo isso, e que belo exercício tem sido).
A primeira conclusão que chego é que exercitar tudo isso é o que tem nos tornado Grupo Bicho de Porco.
Trabalhar é preciso. Pesquisar novos trabalhos, circular com O Cão Sem Plumas, com Jornada Shakespeare e Jornada de Paz Tempo de Guerra. Encontrar nosso público e permitir que ele nos encontre. Comungar com outros artistas. Descobrir. Aprender mais e mais. Fazer o melhor trabalho possível sempre.São nossos grandes objetivos como grupo de teatro. . Mas nao é apenas isso que nos torna um grupo.
Ah, o poder das palavras!
(Ainda voltarei a falar dessas palavras.)
Postagem realizada por Bruno Peixoto Cordeiro
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